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A vida no campo não é um “mar de rosas”

Contato com a natureza 24h –
literalmente

A vida no campo não é um “mar de rosas”. Pelo menos não sem seus espinhos! Aqui também há situações desafiadoras, desagradáveis e até mesmo perigosas – como em qualquer outro lugar deste mundo de pecado.

Ao conversar, porém, com alguns aspirantes à vida no campo, às vezes noto uma ideia um tanto romântica sobre a vida campestre. É verdade que aqui a vida é mais tranquila, mais simples, mais saudável, mais livre de imoralidade e bem mais próxima da natureza que no meio urbano, mas isso não quer dizer que seja tudo “um mar de rosas”!

O contato com a natureza que a vida no campo oferece pode ser notado por toda parte: nos alegres pássaros cantando e criando seus filhotes na varanda da casa, nos agitados macaquinhos fazendo barulho na mata, no belo tucano aparecendo para saborear frutas no pomar, no canto da seriema ao amanhecer e entardecer, em encontros inesperados com o tímido lobo guará e muito mais! MAS TAMBÉM nas visitas noturnas dos ratos espertalhões, dos ágeis camundongos e dos morcegos sem noção, que gostam de dar rasante na nossa cabeça, especialmente quando se está tentando conseguir um sinal de celular do lado de fora da casa, caso a abençoada antena ainda não seja uma realidade! Esta semana, estamos travando um conflito com o super mouse, apelido carinhoso que demos ao rato superdotado que anda rondando por aqui. Que fique uma coisa bem clara: eu ainda não gosto nenhum pouco de ratos, ainda subo na cadeira quando vejo um, apesar de já não gritar mais – porque acordar minha filha seria algo bem pior. Mas esse super mouse é realmente esperto: pula a ratoeira, desvia da cola, não entra na gaiola e prefere banana a queijo! Esperto demais – até na alimentação! Uma hora a gente (quer dizer, meu marido) enquadra ele, enquanto isso a luta continua. Quanto aos 

Acesso (ou desacesso?) ao nosso sítio
em tempo de chuva. Detalhe da foto:
Vizinho com seu 4×4. Esse nunca atola!

sapos, aranhas e insetos depois de um longo tratamento de choque para mim, agora nos tornamos colegas, mas confesso que ainda levo susto, embora bem menor que antes, quando um sapo se esconde embaixo do tanque ou uma aranha aparece no banheiro. Coisas da roça, como costumamos dizer. A essa altura, talvez você esteja se fazendo a mesma pergunta que várias pessoas já me fizeram: “Tem cobra no seu sítio?” Eu costumo responder com a pergunta: “Tem tubarão no oceano?” Claro! Ainda bem que os encontros com as cobras aqui são tão ocasionais quanto um encontro com um tubarão durante um passeio de barco (isto é, se o passeio não for em Recife – rs).

A tranquilidade também tem seu preço. Em épocas de chuva, o acesso se torna um grande desafio. O barro é geral e as estradas principais (que dirá as secundárias) podem ficar praticamente intransitáveis. Há dias que ninguém entra e ninguém sai, quer mais sossego que isso? Daria até para dormir de porta aberta, se não fosse o vento (e os ratos, e os morcegos, e os sapos…). Durante o período de chuvas deste ano, nosso acesso ficou tão crítico que houve dias que nem mesmo o nosso 4×4 conseguiu sair ou chegar em casa. O jeito foi desmarcar compromissos, ou, na caso de um regresso, estacionar próximo ao barranco e colocar o pé na lama (com aquele saquinho de 

Com tanto barro,
o jeito é desatolar – sem reclamar!

supermercado amarrado para não sujar tanto os sapatos, claro) e subir (com cuidado) a ladeira com mochila nas costas, criança no colo, guarda-chuvas nãos mãos e muito bom-humor, especialmente quando alguém deslizava! Nesse período o trajeto é sempre com emoção. Ainda bem que o marido encara a aventura ao volante, porque eu só de pensar em dirigir nessa situação já começo a suar frio. Acho que na próxima temporada de chuvas vou seguir o exemplo do vizinho e arrumar um cavalo! Agora que a estrada secou e foi consertada, o trajeto ficou muito sem graça (na opinião da minha filha e do meu marido, claro).

Os imprevistos são outras situações bem corriqueiras no campo: a mangueira de água que estoura bem no dia que estamos com a casa cheia de visitas, a cerca que cai e o gado que invade a plantação, o cachorro teimoso que vira e mexe morde um porco-espinho, a energia que cai só de ameaçar uma chuva mais forte, o fogo que se alastra a partir de um pequenina centelha na palha e é preciso agir logo para não queimar o sítio todo e por aí vai. Coisas da roça!

As atividades não param –
faça chuva, faça sol

Outra ideia romântica do campo que às vezes as pessoas têm é aquela que no sítio sobra tempo para deitar na rede, ficar à toa ou de pernas para o ar. Puro mito! Talvez isso seja uma realidade para aqueles que só vão para o campo para passar feriados, mas se há uma coisa que aqui não existe é monotonia e falta do que fazer. Sempre há algo para plantar, limpar, consertar, refazer, manter, cuidar… faça chuva, faça sol! É verdade que admirar o panorama faz parte da rotina, já o deitar na rede é outra história.

Na verdade, a maioria dessas situações espinhosas não são realmente uma dificuldade, mas elas parecem piores por conta do nosso urbanismo enrustido. O grande desafio de fato está em saber como conviver ou superá-las com alegria e gratidão a Deus. Afinal, esses desafios são muito pequenos diante das bênçãos recebidas e incomparavelmente menores que os desafios enfrentados na cidade. Depois de nove anos na roça, meu esposo e eu podemos dizer que a vida no campo compensa cada esforço.

Certa vez, ao sonhar com o Céu, Ellen G. White descreveu desta forma o sentimento que teve:

Todos nós [os salvos] fomos debaixo da árvore, e sentamo-nos para contemplar o encanto daquele lugar […]. Tentamos lembrar nossas maiores provações, mas pareciam tão pequenas em comparação com o peso eterno de glória mui excelente que nos rodeava, que […] todos exclamamos – “Aleluia! É muito fácil alcançar o Céu!” – Ellen G. White, Conselhos Para a Igreja, p. 34.

É assim que meu esposo e eu nos sentimos em relação ao campo também (imagine só como será no Céu!). Os espinhos são pequenos demais!

Além disso, cada desafio, imprevisto, medo ou esforço superado com a ajuda do Pai, nos sentimos mais fortes física e espiritualmente falando e, graças a Deus, mais experientes também. Quando meu esposo e eu relembramos as várias situações desafiadoras que já enfrentamos até aqui, notamos que todas vieram de encontro com defeitos de caráter que não havíamos percebido (pelo menos não tanto) e que precisam ser corrigidos em nossa vida. Quer bênção maior que essa?! Que os desafios continuem vindo pela graça de Deus!

Que a vida no campo não é um “mar de rosas” agora você já sabe, mas com toda certeza é um mar de bênçãos sem fim!

Por Karina Carnassale Deana – Vida Campestre

Karina Carnassale Deana
Esposa do Davidson, mãe da Graziella (8) e dona de casa. Pedagoga e tradutora freelance. Gosta muito de escrever e inventar maneiras de ajudar as crianças a aprender. Ama a vida no campo e estar em meio à natureza com Deus e a família.

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21 Comentários

  1. Parabéns pelo blog de vcs !!! gostei dessa abordagem sobre as dificuldades que são encontradas no campo, realmente não é somente romantismo o campo, mas como em todos os lugares tem suas labutas, eu e minha família estamos com planos de nos mudar-mos, já começamos a treinar em nosso quintal rsrs… gostaríamos de saber se existe possibilidade de algum dia antes de nos mudarmos, conhecer o local onde vcs vivem ::: obrigado pela atenção !!!

    1. Olá,

      Que legal que você e sua família planejam mudar para o campo e que já estão treinando para isso! Que Deus os abençoe.

      Sobre a visita, entre em contato através do email: [email protected]

  2. Bom dia,toda semana dou uma passadinha aqui,tem me dado forças para continuar sonhando em um dia sair da cidade,tenho orado por esse desejo,ja nao aguento mais viver na cidade,moro aqui em curitiba,temos tres filhos pequenos e sinto o quanto estao perdendo das melhores coisas na vida,ha um ano atras encontrei o blog de voces num dia de desespero,ha seis anos que desejo muito mesmo ir para qualquer lugar,mas como a maioria estamos presos pelo emprego,casa financiada,mas sei que Deus tem um plano e queremos sair daqui com a direçao dele,Deus abençoe muito voces,meu nome e Dirlene e meu email e [email protected],fiquem com Deus.

    1. Olá, Dirlene

      Imagino sua ansiedade para que essa mudança ocorra logo em sua vida. Não é fácil aguardar o tempo de Deus, mas continue buscando nEle soluções para tornar esse sonho uma realidade. Ele com certeza já tem tudo planejado para isso, pois é o sonho dEle também.

      Um abraço.

  3. Olá !
    É um prazer poder segui-los oficialmente, já os sigo desde o inicio, são uma família maravilhosa, agora também eu me rendi à blogosfera e quis logo oficializar este momento de ser vossa seguidora, beijinhos e continuem !!! Tê 🙂 http://organizadaesaudavel.blogspot.pt/

    1. Olá,

      Que legal saber que você nos acompanha. Gostei do tema do seu blog e já dei uma espiadinha por lá! Não descobri seu nome, será que a conheço pessoalmente?

      Um beijo,
      Karina.

    2. Não nos conhecemos pessoalmente, sou portuguesa e cristã Adventista do Sétimo Dia 🙂 e vivo a 90 km da cidade de Lisboa, vivo à beira mar numa terra linda, sou a Tê de Teresa, é um prazer visitar o seu blogue encontrei-o por acaso e fiquei logo rendida, por vossa influência comprei e li o livro Vida no campo que adorei e faz todo o sentido, se não for nesta terra que seja no céu o dia do nosso encontro pessoal porque já nos encontramos aqui na blogosfera, beijinhos e um bom-fim-de-semana 🙂

      1. Olá, Teresa

        Que alegria saber que gosta do nosso blog e que leu o livro Vida no Campo. Espero que possamos nos conhecer pessoalmente um dia. Um grande abraço, Karina.

    3. Desejo de um Sábado muito abençoado !
      Felicidades 🙂

  4. Oi, Karina!
    Fico feliz em haver sinceridade neste blog sobre os perrengues da vida no campo. Nos mudamos para uma cidade pequena e almejamos chegar a ir pro campo. Esta mais perto do que longe! 🙂
    Sempre que leio sobre vida no campo, percebo que ha uma associação com o evangelismo nas cidades ou nos caminhos e valados. Como vocês aliam vida no campo com evangelismo?
    Nossos planos eh montar uma escola missionaria, parecida com a da Maiza.
    Aguardo seu retorno.
    Abraços!!

    1. Olá, July

      Que legal saber de seus planos! Que Deus os abençoe e abra as portas!
      Muito boa a sua colocação sobre evangelismo x vida no campo. Essa é uma das primeiras dúvidas que os cristãos apresentam ao pensar na possibilidade de sair da cidade. Está em nosso planos uma postagem sobre esse tema!

      Beijos,
      Karina.

  5. Olá, July

    Que legal saber de seus planos! Que Deus os abençoe e abra as portas!
    Muito boa a sua colocação sobre evangelismo x vida no campo. Essa é uma das primeiras dúvidas que os cristãos apresentam ao pensar na possibilidade de sair da cidade. Está em nosso planos uma postagem sobre esse tema!

    Beijos,
    Karina.

  6. Deus abençoe por compartilhar essas experiências e aprendizados tão maravilhosos.
    Estou adorando o blog o difícil é para de ler rsrsrs
    Fiquem com Deus.
    Arlete.

    1. Oi Arlete, ficamos muito felizes em saber que está gostando do blog. Deus seja louvado!
      Espero aue você encontre um tempinho para ler e comentar novamente. Beijos.

  7. Olá tenho um quintal bem amplo, com um poço já construído. Minha rua não tem saneamento, as casas ainda são sistema de fossa. E gostaria de saber se pode plantar nestas condições? Qual distância deve ter uma horta de um fossa?

    1. Olá, Vania

      A primeira dica é plantar algumas bananeiras ao redor da fossa, isso ajuda bem. Se for horta de hortaliças apenas, 5m de distância da fossa é suficiente.outros vegetais, 10m. Pomar 30m. Espero ter ajudado!
      Karina.

  8. Amei cada palavra, me deu mais vontade de morar no campo!

  9. Muita coisa importante estou retendo muito aprendizado. Jaja estarei na prática da vida campestre.

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